Hiroshima


A cidade de Hiroshima havia escapado à fúria dos B-29, e ainda conversava instalações que, sabíamos, atrairiam chuvas de bombas. Entre essas figurava o Quartel-General do 2° Grupo do Exército, que comandava a defesa de terra da metade sul do Japão. Dezenas de milhares de soldados se haviam reunido em Hiroshima durante a guerra, e a cidade se havia transformado em importante depósito de suprimentos e em centro de comunicações. Hiroshima espraiava-se pelo vasto e plano delta do rio Ota. As sete desembocaduras do rio dividiam a cidade em sete ilhas que se projetavam na baía de Hiroshima. Com exceção de uma única colina no centro da cidade de cerca de 60 metros de altitude, Hiroshima era quase inteiramente plana e se destacava imperceptivelmente acima do nível do mar. Somente sete milhas quadradas do total da área de 26 milhas quadradas apresentavam construções, e 75 por cento da população se aglomera nessa área.

Com exceção do centro, que exibia um número de edifícios de concreto reforçado, a cidade se apresentava como um conglomerado de pequenas casas de madeira e de oficinas. Mesmo as construções industriais eram de madeira.

(...)

Três dias depois, às sete e cinquenta da manhã, hora de Tóquio, as sirenes de alarma derramaram os seus sons sobre a cidade de Nagasaki, que fica numa baía que forma o melhor porto natural de Kyiushu. A cidade se estende por dois vales, através dos quais fluem dois rios. Separando as áreas residenciais e industriais, se levanta uma montanha que contribui para a forma irregular de Nagasaki e que confia a parte construída da cidade a menos de quatro milhas quadradas dos limites da cidade.

Nagasaki foi um dos maiores portos marítimos do sul do Japão, e era vitalmente importante para nossas forças militares, devido a suas inúmeras e variadas indústrias, incluindo as que produziam armas, navios, equipamentos militares e outras matérias. Ao longo de uma estreita faixada cidade, a fábrica de Aços Mitsubshi se estendia ao sul, e para o norte se espalhava a Fábrica de Torpedos Mitsubshi – Urukami. Ao contrário das partes da indústria da cidade, as áreas residências – construções de madeira cobertas de telhas – se apresentavam numa confusão aglomerada particularmente suscetível a incêndios.

MASATAKE, Okumiya. Apud HORIKOSHI, Jiro; CAIDIN, Martin. Zero. São Paulo: Flamboyant, 1941-1945.

Hekmat Fahmi


- “Aí vem Hekmat Fahmi” – diz ele. E os aplausos saúdam-na, abafando todas as conversas. Hekmat está de pé, no palco.

-- É uma maravilha, como os jardins de Semíramis – observa o major.

Aquela mulher é realmente bela, de uma beleza árabe. Não se trata de uma girl norte-americana de pernas compridas, porém de uma mourisca de formas perfeitas, com movimentos de gata e olhos magníficos. Tem um verdadeiro perfil egípcio, e que arte na dança! Sem dúvida é uma coisa impossível de ver fora do Cairo, mesmo no Wintergarten ou no Scala de Berlim, no Folies – Bergères ou no café de Paris, ou ainda no Picadilly Circus de Londres. Ninguém no “kit-kat” e bem poucos no Cairo sabem que essa mulher é uma das principais fontes de informações da contraespionagem alemã. Quando Hekmat terminou sua dança houve uma explosão de entusiasmo, os espectadores gritavam jogando flores.

CARELL, Paul. AFRICA KORPS. São Paulo: Flamboyant, 1967.  p. 236.

Guerra do Paraguai


No ano de 1864, Edward Thornton, representante inglês em Buenos Aires, enviou uma carta ao ministro das relações exteriores paraguaio, José Berges de cunho sobre as relações rompidas entre o Paraguai e o Império do Brasil e, “somaticamente”, tentando evitar o início da guerra entre os dois países. Esta carta é uma prova interessante de não interessar a Grã-Bretanha (Inglaterra) uma guerra entre o país guarani e seus vizinhos.

Ao Exmo. sr.

Dom José Berges

Reservada

Buenos Aires, 7 de dezembro de 1864

Meu prezado Senhor e Amigo

Muito agradecido à comunicação dos documentos importantes anexos à sua Nota Oficial de 17p. Não posso deixar de deplorar a necessidade de seu governo, segundo sua opinião, romper as relações de amizade com o Brasil V.E [Vossa Excelência] já conhece meu pensamento sobre esse assunto. Creio que o Brasil, a julgar pelos documentos que vi, tem justos motivos de queixa contra o governo oriental e tem o direito de pedir satisfação pelas ofensas que seus súditos tiveram que aguentar.

Também não tenho o menor motivo para suspeitar que o governo do Brasil tenha a menor intenção de ameaçar a independência da República Oriental do Uruguai. Contudo, devo reconhecer que o governo paraguaio é o melhor juiz do que mais convém à sua pátria e não me é permitido dizer nada contra suas resoluções.

V.E sabe que a Inglaterra também está em atritos com o Brasil, de modo que tanto por esse motivo, como pela falta de instruções de meu governo, não poderia fazer nada de oficial com seu governo; mas particularmente sim, se puder servir no mínimo que seja, para contribuir para a reconciliação dos dois países, espero que V.E não hesite em me utilizar.

Atrevo-me a lembrar a V.E sua promessa de enviar-me alguma informação sobre a quantia total das contas da República [do Paraguai]. Quando V.E tenha um momento para dedicar-se a esse assunto, ficarei imensamente agradecido.

Ao mesmo tempo, suplico a V.E que apresente meus respeitos ao Exmo. Senhor e que tenha a certeza de minha mais alta consideração, com o que tenho a hora de subscrever-me.

De V.E,

O atento servidor

E amigo.

Edward Thornton

Diplomata profissional, Thornton não oferecia seus serviços para restabelecer as relações normais entre o Brasil e o Paraguai, se o governo britânico tivesse interesse em desencadear a guerra. (Argumento do Autor)

(...)

Um dos mais importantes intelectuais paraguaios contemporâneos, Guido Rodríguez Alcalá, faz uma instigante avaliação da figura de Solano López e o compara com Hitler, guardadas as diferenças entre o ditador de uma sociedade rural em relação ao de uma industrializada, como a alemã. Guido Rodríguez Alcalá aponta as coincidências entre ambos.

A semelhança [entre López e Hitler] está na mobilização total para a guerra, na guerra total que ambos travaram, cada qual dentro de suas possibilidades. Creio não ser fora de propósito considerar López um percursor do totalitarismo moderno, encarnado exemplarmente em Hitler-Romantismo, voluntarismo e paranoia definem as personalidades dos tiranos e não é casualidade que o fascismo, ao popularizar-se no Paraguai (na versão criolla), tenha reivindicado a figura de López, o qual foi censurado por suas vítimas e cúmplices. 

DORATIOTO, Francisco. Guerra Maldita: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 90-91