A manutenção de paz no futuro



O secretário de Estado em exercício, Sr. Eduard Stetinius deverá conferenciar ainda esta semana com os representantes diplomáticos das nações latino-americanas a fim de rever e estudar a participação de cada governo americano na organização da segurança mundial. 
 
Anunciado tal revelação em entrevista com representantes da imprensa, Stetinius declarou que o uso de uma força militar pelas Republicas americanas como meio de manutenção da paz contra qualquer possível agressão por parte de uma nação do hemisfério ocidental certamente representa um importante capítulo a ser revisto e estudado. Acrescentou mais o secretário do Estado que a questão do uso da força será trazida por ele durante essa conferência com os diplomatas latino-americanos, a fim de determinar quais seus pontos de vista ou comentários a esse respeito.
 
Afirmou ainda Stetinius que através dos canais diplomáticos registram-se continuas trocas de ponto de vista enter diplomáticos dos EEUU e as Repúblicas americanas sobre a conferência de Dumbarton Oaks. Explicou mais que cada ministro do exterior das repúblicas latinas americanas e recebeu imediatamente uma copia das conclusões de Dumbarton Oaks, sendo todos convidados por Cordell Hull a estuda-las e examiná-las cuidadosamente.
 
Ao que se acredita, a Argentina com a qual os EEUU e outras nações americanas não mantêm relações diplomáticas, não recebeu os resultados da conferência de Dumbarton Osaks. Stetinius, quando da reunião do Dia de publicanos STRD com os enviados diplomáticos das repúblicas latinas americanas, também já discutira num sentido amplo os resultados da conferência de Dumbarton Oaks. Nesta semana, novamente serão reunidos esses representantes diplomáticos, acredita-se que a conferência se realize no próprio Departamento de Estado. 
 
O secretário de Estado em exercício manteve sua declaração anterior de que ainda não se registrou nenhum anterior de que ainda não se registrou nenhum pedido formal por qualquer República latino americana para uma reunião dos ministros do exterior.
 
Obviamente, os EEUU concordariam imediatamente caso se realizasse tal reunião com o pedido de qualquer governo americano.
 
Sendo-lhe perguntado ser possível através dos canais diplomáticos poderem conduzir a uma reunião dos ministros do exterior das repúblicas americanas o Sr. Stetinius respondeu que tal reunião seria possível, acrescentando que dependerá naturalmente de um pedido formal para tal.
 
O Sr. Stetinius respondeu diretamente à pergunta dos jornalistas sobre se deixava admitir que as discussões através dos canais diplomáticos fossem adequados aos desejos deste governo neste estágio de suas convocações com os países latino-americanos sobre a organização da segurança mundial.
 
CARIGNAN, Norman. “A manutenção da paz no futuro.” O Estado do Pará, 25 de Outubro de 1944.
Batalha de Infantaria 


Essencial em todas as batalhas de infantaria, na era do cavalo e do mosquete, era que os homens lutassem ombro a ombro, para concentrar fogo em volume suficiente a fim de rechaçar um ataque. Para a infantaria, era considerado imprescindível o exercício de ordem unida de batalha, já que muitos dos seus líderes acreditavam, com certa razão, que da camaradagem resultava mais coragem para enfrentar o inimigo. Depois que as armas modernas obrigaram à dispersão, o problema de se manter o moral dos grupos pequenos e dos soldados isolados avolumou-se. Naturalmente, os homens que não se assustavam facilmente e os que, através do treinamento, aprenderam a dominar o medo, são líderes naturais. Mas quando esses líderes ficam isolados dos seus seguidores assustados, é muito provável que haja pânico. O grande problema da comunicação, que desafia o líder da infantaria, está em como transmitir a seus comandados sua vontade e [...] determinação, estejam eles próximos ou distantes, para lhes manter de pé o ânimo e o espírito de luta. 

É evidente que o aparecimento dos tanques derrubou todas as convenções do campo de luta, assim como as carroças de batalha de Zizka – líder dos exércitos hussitas. Eles utilizavam carroças de batalhas, empregando táticas que prenunciavam o surgimento dos tanques. No século XV, dominaram partes da Boêmia; o fanatismo religioso e a luta pela sobrevivência, explorados pela direção habilidosa de João Ziska, incontestavelmente produziram a determinação que os levou a vitórias – derrubaram as convenções bélicas de sua época. Os tanques triunfavam quando agiam em falange, com rapidez e seguindo a linha de aproximação menos provável – física e psicológica. Mas quando falhavam, por deixarem de obedecer a qualquer das regras para elas criadas, as guarnições dos tanques quase que invariavelmente continuavam lutando – características não só das guarnições de tanques, mas também das guarnições dos carros blindados da infantaria, da artilharia blindada ou dos canhões de assalto. 

Num veículo blindado, é mais difícil para o homem sucumbir ao medo. Ele sabe que algum companheiro na guarnição estará disposto a prosseguir – talvez os comandantes, que dá ordens que os outros têm de obedecer. Portanto, o motorista passa a marcha, solta a embreagem e leva-os todos avante, enquanto que o resto da guarnição é obrigado, queira ou não, a disparar contra o inimigo com suas armas poderosas. O veículo blindado é uma jaula móvel que, se leva o medo, leva também a coragem. E como os blindados, especialmente os tanques. E como os blindados, especialmente os tanques, carregam um potencial de fogo tão grande e oferecem tanta “segurança” aos seus ocupantes, as possibilidades de dominarem o inimigo são muito maiores. 

Concluindo, veja-se o formidável moral da elite das tropas alemães, que primeiro guarneceu as divisões Panzer do exército e, mais tarde, as divisões Panzer das Waffen-SS. Esse moral decorria do fato de se saberem tropa de elite e do que lhes incutiram homens como Lutz Von Thoma, Guderian e Dietrich, que as formaram e treinaram, e as transformaram num punho de aço que malhou até não mais poder. 

Escrito em grandes letras, acima de seus feitos de guerra, está o espírito que os animou como combatentes, um espírito baseado na camaradagem da guarnição do carro, da unidade tática das seções, pelotões, companhias, batalhões, regimentos e divisões, até os níveis de corpo e de exército, onde um código especial de comunicações baseado em parte nos exercícios, em parte no intelecto, descobriu uma linguagem pessoal que transformava uma linguagem pessoal que transformava os homens de uma Panzerdivision em algo diferente das demais forças armadas alemães, e superior à maioria dos adversários. 

Nunca antes na História houve um exército como o que deveu suas vistorias ao Panzertrupper alemão, que, por ter nascido, crescido, lutado e morrido como uma Arma de decisão independente, livre das regras e restrições ultrapassadas das armas tradicionais da Cavalaria, da Infantaria e da Artilharia, instituiu o tipo excepcional de Guerra Blindada, que até hoje permanece quase irresistível.

MACKSEY, Major C. Divisões Panzer os punhos de aço. Rio de janeiro: Editora Renes, 1974. P. 156-157.


 
A Guerra de Posições (1866-1867) 


Desde o desembarque em Passo da Pátria(1) até a ocupação aliada de Humaitá, distante vinte quilômetros, a guerra foi basicamente de posições, travada nos limites de confluência entre os rios Paraná e Paraguai e a linha de defesa construída por Solano López. Era uma realidade nova, pois até então se travara, na Europa e no Rio da Prata, guerras rápidas, de movimento, com uso predominante de cavalaria e artilharia e batalhas campais decisivas. A Guerra Civil norte-americana (1860-1865) iniciou a mudança na forma de guerrear, pois foi longa, exigiu a mobilização de vastos recursos de toda a sociedade, e tornou-se, portanto, uma “guerra total”, novo conceito para uma nova realidade na tecnologia de armamentos. Na luta norte-americana utilizaram-se trincheiras e novas armas, como rifles de repetição, encouraçados, balões de observação e até um rudimentar submarino, características que implicavam maior mortandade e duração dos conflitos.

A Guerra do Paraguai foi à segunda “guerra total” da época contemporânea e a ela tiveram dificuldades de adaptação os chefes militares aliados, que fizeram “carreira combatendo em conflitos rápidos”, nos quais o fator decisivo era a cavalaria e o armamento principal, espadas e lanças. Esses comandantes não tiveram tempo – e grande parte não teria, também, condições intelectuais - para assimilar as lições da Guerra Civil norte-americana, que terminou quando a luta contra o Paraguai se iniciava. O Exército brasileiro no Paraguai operou, no início, a partir de táticas decorrentes da “doutrina militar” implementada em 1855 por Caxias, então ministro da Guerra. Essa doutrina fora elaborada a partir da experiência nas lutas internas brasileiras e, ainda, sob influência portuguesa, inglesa e francesa. A inflação adotou o sistema de instrução proposto pelo coronel do Exército português, Bernardo Antônio Zagalo, que preconizava o domínio da ordem unida no campo de batalha, que visava, particularmente, à realização do tiro nas melhores condições, seja avançando ou recuando, e podia ser realizado a pé firme, em conjunto ou por atirador. A baioneta era utilizada como arma ofensiva no assalto e, na defensiva, contra o ataque da cavalaria, os infantes se concentravam na forma geométrica de quadrados.

A cavalaria, por sua vez, adotou o regulamento de tática do general inglês Beresford, pelo qual o objetivo dessa arma era o do ataque, pois tinha velocidade e potência de choque. A artilharia montada usava o regulamento francês, elegendo como seus alvos principais a infantaria e cavalarias inimigas. (Stanislawczvk 1996)

Além dessas três armas – artilharia, cavalaria e infantaria – havia os chamados corpos especiais, aos quais se encontrava agregado o Batalhão de Engenheiros, encarregados de organizar o terreno e proporcionar a transposição de pequenos cursos de água. Esse batalhão, embora pouco valorizado por generais sem formação em academia militar, foi fundamental em uma guerra travada, em grande parte, em terreno pantanoso ou cortado por rios e riachos e, ainda, em trincheiras que tiveram que sair rapidamente construídas. 
 
Em 1866 e meados de 1867, a Guerra do Paraguai foi uma guerra de posições. Foi um período em que o Exército que esteve na defensiva levou grande vantagem sobre a ofensiva em todos os combates travados.

STANISLAWCZVK, Major Affonso Henrique. “A Guerra da Tríplice Aliança e suas Contribuições para a Evolução do Exército Brasileiro.” In: Escola de Comando do Estado Maior do Exército. Monografia do Curso de Altos Estudos. Rio de Janeiro. 1996, p. 11 Apud. DORATIOTO, Francisco. Guerra Maldita: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras , 2002. p. 195-196. 

NOTAS DE RODAPÉ
[1] Passo da Pátria: Localidade situada nas proximidades da junção dos rios Paraguai e Paraná. Pertencente ao Paraguai, o local é repleto de áreas alagadiças com poucas terras firmes.